Black Box

O rápido sucesso de "Ride On Time", do Black Box, na Inglaterra, foi um marco fundamental no desenvolvimento da dance music de toda a Europa Continental. O produtor italiano Daniele Daviole e seus parceiros Mirko Limoni e Valerio Semplici foram responsáveis por uma guinada geral em direção à música italiana através de suas produções como Black Box, Wood Allen e Starlight. Apesar de "Ride On Time" ter sido considerada não-ortodoxa na maneira como usou os vocais de Loleatta Holloway em "Love Sensation", ninguém pôde negar que era uma excelente faixa dançante. Mereceu o disputado título de "single mais vendido de 1989" (na Inglaterra). O Black Box havia sido o pioneiro de uma novidade com a qual o resto do mundo se divertiu e sobre a qual todos fizeram comentários maldosos. E um ano depois? Este tipo único de house ainda tem fôlego?

Mirko Limoni

Você ficou surpreso com o sucesso de "Ride On Time" na Inglaterra?
- Ficamos extremamente surpresos, mas ficamos ainda mais surpresos em maio do ano passado, quando soubemos que um jornalista inglês da Mixmag estava vindo especialmente para a Itália para nos entrevistar. Você foi o primeiro a nos entrevistar. Quando a revista deu o nome de ítalo house, todo mundo depois adotou para descrever a dance music que estava vindo da Itália.

Há muitos DJs atualmente tocando coisas com batida tipo Sou II Soul, mais lenta. Você acha que essa mudança vai influenciar o estilo do Black Box?
- Se você escutar o LP perceberá que nem todas as faixas são aceleradas, do tipo rápido - não há nada no estilo Soul II Soul, mas a bpm se aproxima, por exemplo, em faixas como "Hold On" e "Open Your Eyes". Se o BB vende, então é porque as pessoas gostam do seu estilo de música e não necessariamente porque é algo lento, rápido ou qualquer coisa entre isso.

Vocês vão permanecer juntos como equipe de produção?
- Com certeza vamos permanecer juntos, pois agora estamos muito mais unidos do que há um ano atrás, quando você nos entrevistou pela primeira vez. Temos planos de construir outro estúdio, ao lado do atual, para que possamos dividir nosso tempo trabalhando cada um em projetos diferentes, porém próximos o suficiente para ficarmos envolvidos e contribuirmos com o que está acontecendo em cada estúdio. As vezes, precisamos dos três no estúdio ao mesmo tempo e, às vezes, precisamos de espaço para desenvolvermos nossas idéias individualmente.

Daniele Davioli ficou aborrecido com a reação que sua aparção provocou no World Dance Music Awards, no Wembley Arena? Muitos não gostaram.
- Stock, Aitken and Waterman receberam o mesmo tipo de reação no passado e veja quanto dinheiro fizeram. Então, não estamos nem aí! Além do que, não era um público de house. Daniele estava preparado porque muita gente que não é do hip hop é vaiada nesse evento.

De repente, através das finas paredes da sala de entrevistas, chega um som, que se reconhece como "Touch Me", dos 49ers, o que provoca um comentário agressivo de Mirko.
- Estão nos copiando, dizendo que inventaram a house (sic). Eles são uma cópia de nós. Escrevemos "I Don´t Know Anybody Else" muito antes dos 4gers fazerem ´Touch Me".

A história em torno de "Touch Me", dos 49ers, é muito semelhante ao problema que o BB teve com "Ride On Time". Eu lembro que o BB nunca pediu permissão para usar a voz de Loleatta Holloway. E todos sabem o problema que isso causou: um processo de Loleatta e muito falatório.
- No início, prensamos apenas mil cópias de "Ride On Time" e não pedimos permissão para usar a voz de Loleatta Holloway porque não sabíamos que o disco faria tanto sucesso! Depois que foi lançado na Inglaterra, tentamos fazer contato por carta, mas ela não respondeu. Só depois do sucesso da música é que ela resolveu aparecer. Mas agora tudo já foi resolvido.

Quais são os planos futuros para o BB?
- Não temos planos concretos - vai depender do êxito do LP. Queremos ir em frente com os outros projetos também. Gastamos quase todo minuto de trabalho dos últimos doze meses neste LP.

Katrin Quinol

Katrin Quinol, a principal voz do Black Box, foi motivo de controvérsia desde sua aparição no Top Or The Pops (o programa das paradas de sucesso da TV inglesa), no ano passado, quando dublou a voz de Loleatta Hollowayem "Ride On Time". Muitas sugestões foram apresentadas sobre quem seria a verdadeira cantora no resto do LP. Decidimos entrevistar esta ex-modelo veneziana de 23 anos e descobrimos que talvez ela seja realmente a diva que ela, seus produtores e sua gravadora, insistem que é...

Em "Ride On Time", você se sentiu mal em dublar a voz de Loleatta Holloway?
- Não me senti mal quanto a isso - fiquei mais chateada com as pessoas me criticando. Por "Ride On Time" ter decolado tão rápido, não tivemos tempo de refazê-la com a minha voz - nunca achamos que a música ia dar tão certo, porém já estava decidido que eu iria cantar no resto do LP.

Você não acha, entretanto, que pode ser antiético dublar a voz de outra pessoa?
- Não me senti particularmente bem em dublar a voz de outra pessoa, mas você tem de se lembrar que quando começamos, tentamos fazer contato com Loleatta Holloway para convidá-la a participar. Não foi como se cantássemos "Love Sensation" inteiramente outra vez, foi muito diferente.

Você cantou em todo o resto do LP?
- Sim, exceto pelo rap masculino de "Strike It Up"!

Vamos lá, então, canta para a gente agora! (ops, julgando pela torrente de italiano que veio a seguir, isso também já foi pedido antes.
- Não vou fazer isso - estou cheia disso! Há três semanas eu fui a um evento promocional numa grande loja de discos, em Paris, para cantar um pouco. Quando cheguei lá, eles haviam instalado um microfone e estavam perguntando se havia alguém do público querendo perguntar alguma coisa. Aí um cara falou: "Eu quero! Canta!" Então eu segurei o microfone e cantei "I Don´t Know Anybody Else" inteirinha, a capella, e disse que seria a primeira e última vez que eu faria isso. No fim, todo mundo estava de queixo caído e aplaudindo - eles achavam que iam me pegar. As pessoas são invejosas e gostam de fofoca!

Fonte: Revista Bizz - Jan/1991


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